08 abril 2009

Genéricos

A iniciativa da Associação Nacional de Farmácias em substituir os medicamentos de marca por genéricos mais baratos sem autorização do médico parece-me lamentável, para além de ser (aparentemente) ilegal.

Os farmacêuticos devem neste caso limitar-se a informar o doente sobre a existência de alternativas, cabendo apenas aos médicos a prescrição dos medicamentos.

É necessário, no entanto, que se banam definitivamente todos os interesses envolvidos. Só é admissível que um médico "bloqueie" o genérico correspondente ao medicamento que prescreveu se essa sua decisão tiver exclusivamente motivações terapeuticas.

5 comentários:

António J. B. Ramalho disse...

Caro MBB
Desta vez estamos em desacordo. Explico porquê:
1. Um medicamento genérico é - salvo definição mais correcta - um fármaco com a mesma substância activa, forma farmacêutica e dosagem de um medicamento original em relação ao qual prescreveu a respectiva patente.
2. Os medicamentos antes de serem colocados em circulação são previamente testados e validados por entidade independente dos respectivos produtores (em Portugal, o Infarmed);
3. Dito por outras palavras: um medicamento genérico é igual (e se não for, alguém está a falhar na sua função de fiscalização) ao fármaco original;
4. Dito isto, a conclusão é óbvia: não há, não pode haver, qualquer genuína razão médica para prescrever um medicamento de marca em detrimento ao seu homólogo genérico;
5. Haver razões para os médicos persistirem nesse comportamento - que roça a imoralidade – (de prescreverem medicamentos de marca) há… o que não há é razões confessáveis;
6. A Associação de Farmácias não está aqui a fazer o papel de “boazinha” contra a “velhacaria” dos médicos; está, como é evidente, a procurar defender os seus interesses que, por acaso, são coincidentes com os interesses dos extractos da população mais desfavorecida;
7. Devia ser o Ministério da Saúde a defender clara e inequivocamente a posição actualmente protagonizada pela Associação de Farmácias; não para defender os interesses desta e dos seus associados, mas sim para defender o erário público e o superior interesse daqueles que nada lucram por estarem doentes.
Mais uma vez tive gosto em debater consigo ainda que, desta feita, em desacordo.

MBB disse...

Caro António J. B. Ramalho,

Neste caso estamos em desacordo, não em tudo.
Entendi que defendemos a prescrição de genéricos. Sinceramente, não me lembro do último medicamento de marca que comprei para mim.
Discordamos no acto de prescrição, que na minha opinião, deve ser exclusivo da relação médico/doente.

Como referi no post, só entendo a prescrição de medicamentos de marca se existirem exclusivamente razões terapêuticas e neste campo, o conhecimento que um médico tem do seu doente é válido também na capacidade de entender como este reagirá à toma do fármaco. Muitas vezes a componente psicológica é mais importante que o principio activo. Acredite que existem muitas pessoas de idade a quem uma dor passa com Ben-u-ron mas persiste com a toma de paracetamol.

Além disso, e salvo o erro por não ser especialista, os genéricos são testados através de, entre outras coisas, estudos de biodisponibilidade para comprovar a sua bioequivalência.
O teste de bioequivalência demonstra que o medicamento genérico, na sua grande maioria dos casos, apresenta a mesma disponibilidade no organismo.
Não é portanto completamente comprovado que em todos os pacientes a eficácia clínica e segurança de um genérico seja igual ao fármaco referência, sobretudo em pacientes com alguns tipos de patologia.

Não há melhor do que um médico, que conhece o doente, para tomar a decisão da prescrição.

Por outro lado, não me parece correcto que aceitemos os interesses das farmacêuticas em detrimento dos interesses dos médicos apenas porque os primeiros são coincidentes com os nossos próprios interesses.

Importante é que haja informação e uma consciencialização social sobre os genéricos para que possamos nós, utentes, decidir o tipo de fármaco que queremos, contanto com a honestidade e seriedade dos nossos médicos.

Debater um assunto, sobretudo com opiniões diferentes, é sempre enriquecedor e desta forma, saudável.

rute disse...

Caro MBB,

Estive a ler o teu post, bem como aquilo foi escrito na respectiva caixa de comentários e, de facto, nao posso passar sem deixar aqui a minha opinião.
Concordo contigo no aspecto em que não foi correcto, da parte da ANF, a substituição de medicamentos de marca por genéricos quando esta não foi autorizada pelo médico. Se actualmente existe, na receita, um campo onde o médico pode ou não autorizar essa substituição, este não devia ser ignorado. Contudo, quanto a mim, este mesmo campo não deveria existir. O médico, se quisesse, receitaria o medicamento de marca mas, penso que caberia ao doente decidir, mediante a informação do farmacêutico, se quer ou nao substituí-lo pelo genérico. Tal como disse o Sr. António Ramalho, os medicamentos são testados antes de entrarem em circulação. E digo-te eu, com conhecimento sobre o assunto, que realmente tudo o q envolve o medicamento, desde a sua produção até às suas condições de acondicionamento, é testado e validado. E um genérico jamais conseguirá AIM (autorização de introduçao no mercado) se algo puder comprometer a saúde do doente.
É certo que a ANF está a defender os seus interesses que, por acaso coincidem com os nossos interesses como "consumidores de medicamentos". Dizes tu que "não há melhor do que um médico, que conhece o doente, para tomar a decisão da prescrição". Não achas então correcto, nós consumidores, defendermos a posição da ANF só porque esta também beneficia com uma participação mais activa do doente na sua terapêutica. Eu não posso estar mais em desacordo. E olha que não faço parte da ANF nem sou proprietária de nenhuma farmácia. Aliás, nem sei até que ponto esta última beneficia com esta substituição pelos genéricos visto que, vendendo medicamentos de marca, a farmácia até ganha mais (disto não estou totalmente certa). Contudo, sei que para os utentes, por vezes, comprar um genérico "por inteiro" fica mais barato do que comprar um medicamento de marca com o desconto. E assim, diz-me... Há tanta gente que não tem possibilidades e, uma participação mais activa do doente na sua terapêutica e, por conseguinte, uma substituição por genéricos mais facilitada não iria trazer uma melhoria das condições de vida da população mais desfavorecida?

Fiz uma pergunta, mas não estou de forma alguma à espera de uma resposta ao meu comentário. Só quis mesmo expôr aqui a minha opnião como utente e como futura farmacêutica. Acho que o curso serviu para alguma coisa. Olha, mais que não seja para ter uma opinião formada acerca deste assunto tão falado nestes últimos dias. Sim, porque a formação do farmacêutico é mt vasta (puxo a brasa à minha sardinha,claro) e o seu papel é mt importante, não havendo ninguém que conheça melhor o medicamento do que este profissional de saúde. Aliás, digo-te que, a nível hospitalar, qualquer que seja a prescrição que um médico faça a um doente internado na instituição, tem de ser necessáriamente validada pelo farmacêutico antes da administração ao doente em questão.
Principalmente nos últimos anos do curso, os professores quiseram transmitir-nos a ideia de que, em farmácia comunitária não é só vender, como muitas das pessoas pensam. Os farmacêuticos estão ali para fazer o melhor acompanhamento possível ao doente e sua terapêutica. Estão ali para prever e notificar possíveis reacções adversas. Estão presentes para ajudar o doente nas situações em que o deoente tem um papel activo na sua terapêutica, como é o caso da utilização de medicamentos não sujeitos a receita médica, como por exemplo um simples antigripal. Ou seja, estão ali para prestar Cuidados Farmacêuticos.

Bem, já me excedi.. :)

Um beijinho,

Rute

MBB disse...

Rutinha,

Antes de mais, alegra-me ver-te aqui a comentar!

Depois, acho que concordamos em tudo! Não só na questão da ANF.
Como disse no comentário anterior, "Importante é que haja informação e uma consciencialização social sobre os genéricos para que possamos nós, utentes, decidir o tipo de fármaco que queremos, contando com a honestidade e seriedade dos nossos médicos.".

Os pacientes têm mesmo de ter uma participação mais activa na sua terapêutica. E claro, todos nós queremos comprar medicamentos mais baratos, sobretudo quem tem maiores dificuldades.

Todos reconhecemos, ou deviam reconhecer, a importância dos Farmacêuticos!


Beijinho

António J. B. Ramalho disse...

Bons posts geram bom debates.