18 maio 2010

Casamento?!

O Presidente da República promulgou ontem o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo (o link dá acesso à notícia do Expresso que inclui o discurso na íntegra).

Não me julgo a melhor pessoa para falar disto nem tenho a pretensão de ter razão, mas não posso deixar de expressar a minha opinião pessoal. Não sou tão liberal quanto a maioria, pelo menos não nestas questões, nem aprovo as modernices que esmagam a tradição e os costumes. O casamento é, por definição - não nos dicionários, que já foram adaptados, mas na cabeça de pelo menos algumas pessoas - a união entre pessoas de sexo diferente, com o intuito de construir família. Como é fisicamente impossível (até ver!) duas pessoas do mesmo sexo construírem família, desde logo não me parece que se enquadrem no conceito.
Que fique claro que não sou homofóbica. Longe disso! Cada um é como é, há que aceitar as diferenças. Mas não é correcto tratar os diferentes como iguais. Igualdade é, exactamente, tratar cada um de acordo com as suas características - iguais como iguais, diferentes como diferentes. E ser homossexual não é melhor nem pior: é diferente.
Mais, aceito obviamente que duas pessoas do mesmo sexo se apaixonem e namorem, além de que concordo plenamente que vivam juntas e que tenham os benefícios económicos (financeiros, em termos de heranças...) que o casamento, enquanto contrato, permite aos heterossexuais. Mas... chamar-lhe casamento?! Sim, é com o nome que não concordo. Qual é a importância do nome? Toda. É toda a importância que têm a tradição e as crenças das pessoas. É toda a importância que tem o conceito em si, que está a ser (já foi!) deturpado. Agora, dois homens ou duas mulheres podem casar. Lindo!
De acordo com o discurso do PR, países como a Alemanha, França e Reino Unido adoptaram soluções que respeitam simultaneamente os direitos dos homossexuais e o conceito original de casamento. Aliás, apenas 4 dos 27 países da União Europeia chamam casamento à união entre pessoas do mesmo sexo... apenas 7 países no Mundo o fazem.
Vamos chamar retrógrados à Alemanha, à França e a todos os restantes 23 países da UE e modernos aos portugueses? Que mente aberta que "nós" temos!
Tenho 19 anos (quase 20!). E estou realmente chateada, realmente desiludida com tal modernismo.

15 comentários:

Anónimo disse...

Estou plenamente de acordo.
Acrescento, se me é permitido, que este tipo de assuntos não se devem resolver com decretos-lei. São questões extremamente culturais. Estão enraizadas na nossa forma de ser e pensar. E se as leis devem reflectir a vontade da sociedade, então que não se inverta o percurso.

Carina Mendes disse...

O próprio PR comentou a falta de vontade política em encontrar uma solução que pudesse ser aprovada por todos os partidos e pela população em geral. Dividir a população e gerar polémica não é, definitivamente, a melhor forma de resolver assuntos como este. As leis devem, sim, reflectir a vontade da sociedade e, neste caso especifico, acredito que fosse possível, tal como foi em outros países, conjugar a vontade, a dignidade e a liberdade dos homossexuais com o conceito de casamento entre homem e mulher. Não foi feito. Era uma das promessas de Sócrates e foi conseguida, sem a menor tentativa de alcançar um consenso. Neste momento, de qualquer forma, já só nos resta lamentar e essencialmente tentar extrair uma lição para o futuro. Há-de ser possível andar em frente, evoluir e modernizar, sem pisar deturpar os costumes.

Calvin disse...

Isto só me lembra um sketch do gato fedorento

http://www.youtube.com/watch?v=xWd56RacyeE

NFG disse...

Depois tento dar a minha opinião sobre o que a Carina escreveu, umas coisas concordo a 100%, outras nem tanto... Mas gostei.

Quanto ao Calvin, tive de ir ver o sketch, porque até gosto do Gato Fedorento. Quando acabei de ver é que percebi que o comentário nem era a favor, nem contra... :) ou se for, uma coisa ou outra, só cabe naquela parte da argumentação que se designa por... parva :) (com todo o respeito que sempre tive por ele ahah)

Carina Mendes disse...

Bom... Antes de mais obrigada pelos comentários pois, como blogue que é, e tal como enfatizei no início do post (afirmando que se trata de uma opinião pessoal), a ideia é exactamente essa: dar opiniões. Também vi o sketch e também me ri um bocadinho com ele. Sem dúvida que é a parte parva da argumentação, é o ridicularizar da coisa e vale o que vale. Quanto ao nome, e embora piaçaba ou bobi me pareçam óptimas sugestões (para não falar no mini-golfe, litigioso ou não...), penso que união civil registada, tal como outros países lhe chamaram, deve chegar e ser suficientemente apropriado, portanto não seria certamente necessário, ainda que o PR não tivesse promulgado o casamento, gastar energia em discussões deste tipo. :P

Calvin disse...

Na minha opinião mostra o parvo que é a discussão de chamar outra coisa qualquer ao casamento homossexual.Têm direitos iguais ao casamento, porque chamar lhe outra coisa diferente? É assim tão importante manter a exclusividade da palavra apenas para o casamento heterossexuais?Para mim não me parece minimamente importante, e para eles é relevante, então acho que não há problema nenhum em chamar lhe casamento.Chamar lhe outra coisa qualquer perpetuaria a discriminação que muitas vezes são alvo, a ideia é integrar e não separar por rótulos.

Carina Mendes disse...

Para eles é relevante que se chame de casamento? Penso que o que é relevante, e são esses os argumentos que convencem, é terem os direitos que lhes cabem, nomeadamente em termos de benefícios fiscais, heranças, etc. Não são só os direitos que surgem de uma relação que definem essa relação. O casamento é um conceito aplicável desde sempre à união entre homem e mulher... não me vou repetir. Se me pergunta se é importante manter esta exclusividade... Sim, seria bastante importante. Para mim, certamente para mais alguns portugueses e, pelos vistos, para a grande maioria dos países, que encontraram soluções adequadas. As palavras existem para conseguirmos separar e distinguir as coisas. Não lhe chamaria rotular, mas talvez seja exactamente isso... andar em frente não é necessariamente meter tudo no mesmo saco. Quantos portugueses consideram que a palavra casamento se adequa a uma união entre duas pessoas do mesmo sexo? Gostaria realmente de saber. Agora não há volta a dar, vamos ter que nos habituar e aprender a viver com a lei... tal como foi dito no primeiro comentário, não é essa a ideia, mas é assim que vai ser.

Calvin! disse...

As coisas lá por sempre terem sido assim, não quer dizer que estejam correctas, muito pelo contrario, estas nos deviam ensinar a corrigir os nossos erros, erros que cometemos no passado, e que acho que não é altura de repetir. Em tempos pensou-se que tratar pessoas por diferença de religião ou raça como pessoas de segunda estava correcto, e agora tu dizes que está correcto fazer o mesmo a alguém só porque é homossexual. Só porque é homossexual não deve ter direito a chamar ao seu casamento(casamento sim porque é isso que é) "casamento", tudo por causa de uma mísera palavra? Os dicionários estão sempre a mudar, muitas vezes por muito menos, é isso que a língua faz, evolui, e não à de ser por isso que o casamento heterossexual à de perder o seu valor, caso pensem o contrario, considero um motivo mesquinho para não atribuir esse direito a pessoas que o merecem tanto como nós.(sem ofensa, é uma opinião)

NFG disse...

Oh Calvin, se para ti tanto faz, porquê a insistência em defender que também se devia chamar casamento? achas que a discriminação se dá por aí?

Aquilo que tenho visto (admito que com conhecimento qb, logo não muito extensivo), é que esta discussão do casamento ou não casamento é muito mais uma bandeira daquelas pessoas que gostam de se assumir como as mais libertinas do mundo (atenção que só para algumas coisas, roçando muitas vezes a completa hipocrisia), mas que não são homossexuais, do que propriamente pelos homossexuais.

Retrogado é não aceitar a homossexualidade, pelo menos para mim.

E só mais uma nota (esta claramente para picar): e essa forma de escrever também vem em algum novo dicionário? ou é o novo acordo ortográfico?

Carina Mendes disse...

São opiniões. Tu consideras que uma união entre dois homens ou duas mulheres é um casamento, eu não olho para a coisa da mesma forma e ainda ninguém me convenceu do contrário. As palavras servem para distinguir as coisas! E, neste caso, casar com alguém do mesmo sexo ou com alguém de sexo diferente, com tudo o que isso implica, parece-me merecedor de distinção. Não considero que o facto de uma mesma palavra passar a abranger duas coisas diferentes seja sinal de evolução... mas isso sou eu. Aceito obviamente a tua opinião, como opinião que é... Mas não consigo concordar. Confesso-me, sem vergonha, bastante conservadora com certo tipo de coisas e a tradição conta, os conceitos contam para mim. A noção de casamento está enraizada na nossa cultura por uma série de razões e acredito que está agora a ser deturpada. Repito: não é necessário "pisar" o que está estabelecido para andar em frente. Havia formas de dar a volta à questão! A união entre homossexuais terá o mesmo valor, qualquer que seja o nome que se lhe dê...a questão é o valor, o significado que deixou de ter a palavra "casamento" como a conhecemos desde sempre. Ainda assim, como frisou o Nuno, mais importante que qualquer palavra é aceitar a homossexualidade e os direitos que lhes cabem e, palavras à parte, isso foi feito e ainda bem.

(O novo acordo ortográfico suprimiu o hífen de "há-de", que se escreve agora "há de"... mas o "h" continua lá :) )

João Silva Antunes disse...

Identifico-me com boa parte do que aqui foi dito. Não sou propriamente contra a união de pessoas do mesmo sexo e não creio que por esse motivo possa ser homofóbico ou coisa que o valha. Creio isso sim que do ponto de vista a proposta, não foi discutida tanto quanto seria necessário, tendo em conta que se tratava de uma questão tida pela opinião pública como fracturante. Acredito ainda que houve aproveitamento do ponto de vista político, tendo em conta a grave situação que vivemos, para fazer com que esta questão fosse vista como secundária e como tal o processo tenha decorrido quase em "segundo plano". Nesse argumento partilho inteiramente não só da opinião e decisão expressas pelo PR, seja do ponto de vista fundamental, de importância e de ciclo eleitoral.

Não acho porém que a questão do "modernismo" exposta no post, à semelhança do PR seja convenientemente abordada. Sou da opinião que decisões e legislação devam ser resultado de aculturação e debate e não pelo simples facto de seremos a oitava, ou n-ésima nação de aprovarmos uma lei deste tipo. Não entendo, tal como resto, porque motivo temos que ser obrigados a "andar a reboque" do restantes, tidos como "mais-maiores-grandes-enormes". Não por achar que a lei é boa (na minha opinião acaba por ser um tanto ou quanto feita "em cima do joelho"), mas pelo motivo contrário. As leis contra a pena de morte e de prisão perpétua são disso exemplo: modernistas? Sem dúvida! Fomos os primeiros? Já foi tarde!

Beijinhos e felicidades para o blog! :)

João Silva Antunes disse...

Identifico-me com boa parte do que aqui foi dito. Não sou propriamente contra a união de pessoas do mesmo sexo e não creio que por esse motivo possa ser homofóbico ou coisa que o valha. Creio isso sim que do ponto de vista a proposta, não foi discutida tanto quanto seria necessário, tendo em conta que se tratava de uma questão tida pela opinião pública como fracturante. Acredito ainda que houve aproveitamento do ponto de vista político, tendo em conta a grave situação que vivemos, para fazer com que esta questão fosse vista como secundária e como tal o processo tenha decorrido quase em "segundo plano". Nesse argumento partilho inteiramente não só da opinião e decisão expressas pelo PR, seja do ponto de vista fundamental, de importância e de ciclo eleitoral.

Não acho porém que a questão do "modernismo" exposta no post, à semelhança do PR seja convenientemente abordada. Sou da opinião que decisões e legislação devam ser resultado de aculturação e debate e não pelo simples facto de seremos a oitava, ou n-ésima nação de aprovarmos uma lei deste tipo. Não entendo, tal como resto, porque motivo temos que ser obrigados a "andar a reboque" do restantes, tidos como "mais-maiores-grandes-enormes". Não por achar que a lei é boa (na minha opinião acaba por ser um tanto ou quanto feita "em cima do joelho"), mas pelo motivo contrário. As leis contra a pena de morte e de prisão perpétua são disso exemplo: modernistas? Sem dúvida! Fomos os primeiros? Já foi tarde!

Beijinhos e felicidades para o blog! :)

Carina Mendes disse...

São opiniões. Tu consideras que uma união entre dois homens ou duas mulheres é um casamento, eu não olho para a coisa da mesma forma e ainda ninguém me convenceu do contrário. As palavras servem para distinguir as coisas! E, neste caso, casar com alguém do mesmo sexo ou com alguém de sexo diferente, com tudo o que isso implica, parece-me merecedor de distinção. Não considero que o facto de uma mesma palavra passar a abranger duas coisas diferentes seja sinal de evolução... mas isso sou eu. Aceito obviamente a tua opinião, como opinião que é... Mas não consigo concordar. Confesso-me, sem vergonha, bastante conservadora com certo tipo de coisas e a tradição conta, os conceitos contam para mim. A noção de casamento está enraizada na nossa cultura por uma série de razões e acredito que está agora a ser deturpada. Repito: não é necessário "pisar" o que está estabelecido para andar em frente. Havia formas de dar a volta à questão! A união entre homossexuais terá o mesmo valor, qualquer que seja o nome que se lhe dê...a questão é o valor, o significado que deixou de ter a palavra "casamento" como a conhecemos desde sempre. Ainda assim, como frisou o Nuno, mais importante que qualquer palavra é aceitar a homossexualidade e os direitos que lhes cabem e, palavras à parte, isso foi feito e ainda bem.

(O novo acordo ortográfico suprimiu o hífen de "há-de", que se escreve agora "há de"... mas o "h" continua lá :) )

João Silva Antunes disse...

Carina,

Talvez não me tenha feito entender da melhor forma. Quando escrevi na "opinião e decisão expressas pelo PR, seja do ponto de vista fundamental, (...)", leia-se que não sou, tal como tu, a favor da utilização da expressão "casamento". No que respeita à decisão do TC, creio que a deliberação e justificação tomadas seriam aplicáveis a qualquer temática ou abordagem, tratando-se do casamento, da vida e da morte ou de qualquer outra coisa.

(eu cá ainda escrevo "à maneira antiga" :P qualquer dia passo a escrever em Português advanced ahah)

Carina Mendes disse...

João, antes de mais obrigada pela tua opinião! Quanto à última resposta não era para ti. Não sei se reparaste mas está repetida... :P

Tens alguma razão no que dizes em relação a sermos os primeiros ou os oitavos ou os n-ésimos... A questão é que um dos argumentos utilizados para a aceitação da lei foi exactamente que a grande maioria dos países já a tinham aceite... só pretendi frisar como, além de não ser um argumento válido, não é verdadeiro.

(Também ainda não aderi ao português advanced, como lhe chamas... qualquer dia!) :D