28 setembro 2010

"O país mudou!"

Depois de muitos anos (e muitas desculpas), a frase mais marcante deste governo, e principalmente deste primeiro-ministro é mesmo esta: "O país mudou!"

Admitindo que os senhores tiveram realmente azar na altura que governaram o país, pelas diversas condicionantes externas, uma coisa também tem de ser dita, não estiveram à altura do desafio.

Umas notas soltas, porque o país mudou mesmo.

O PEC foi aprovado com a opinião unânime que era apenas um programa de estabilidade e não continha qualquer plano de crescimento. As agências, os mercados, e os financiadores externos criticaram-nos por isso. Opinião geral (já com duas décadas): é necessário reduzir a despesa do estado e aumentar a competitividade do país.

Uns meses depois, e muitos, muitos milhões depois (que todos vamos pagar mais tarde), a solução é aumentar os impostos. O IVA? Porquê? Porque torna a nossa economia mais competitiva? Como? Não sei. Parece que penalizar o consumo e a competitividade dos nossos produtos, é a solução. Confere.

Mas confere ainda mais quando chegam uns senhores a Portugal, daqueles que fazem previsões todos os meses, e todos os meses avisam que Portugal tem de reduzir a despesa e apresentam estas soluções. Faltou a redução da despesa, um pequeno lapso.

Só mais duas notas:
1 - O Estado já começou a poupar. Uma, das muitas, formas de gastar dinheiro em instituições públicas é contratar empresas de consultoria para irem "validar" (impor), por meio de um qualquer estudo de milhões de euros a estratégia (normalmente de redução de um qualquer custo, leia-se, reestruturação de serviços/despedimento de pessoal), já delineada pelo seu Conselho de Administração. Espero que a OCDE tenha feito isto de graça, porque acho que aquele da educação ainda não foi pago (e caro que foi...).

2 - Se não foi um favor, então foi um pré-anúncio do FMI. "O país mudou!"

Não resisto e vou acrescentar outro.

3 - Outro senhor, desses que mandam bitaites e toda a gente ouve, dizia: Portugal tem de comunicar melhor com os mercados.

Uma pergunta que se costuma usar para atestar a credibilidade de uma pessoa: Compraria um carro em segunda mão a este senhor (um qualquer, mas imagine o primeiro-ministro José Sócrates, que esta semana respondeu num evento tecnológico, a sorrir: este é o Portugal real)? Se o exemplo não chegar, pergunte ao outro primeiro-ministro, o que em Nova Iorque disse que se demitia. Conhece outro?

O país mudou. E bem podíamos usar o tão conhecido: Sorrindo às dificuldades (mas só porque este dia foi uma verdadeira fantochada).

18 setembro 2010

Da semana do amadorismo à semana da mobilidade

Futebol. Economia. Soberania nacional.

A semana que passou podia muito bem ser classificada como a semana do amadorismo. Das emissões de dívida à viagem de Gilberto Madaíl a Madrid podemos tirar portanto estas três conclusões:

1 - somos geridos, do Futebol à Economia, por amadores.
2 - Quem manda na FPF neste momento é Florentino Pérez.
3 - Quem manda (há muito tempo), na economia nacional, são as agências de rating (aqui fica o parêntesis de que aqueles que têm a capacidade para a destruir, e neste ponto com elevada eficácia, continuam a ser os mesmos).

Na semana da mobilidade, que devia assinalar também essa mobilidade europeia, daqui apelo a que esses grandes fazedores/gestores/gastadores aproveitem a ida de Gilberto Madaíl a Madrid para tentar recrutar alguns recursos para a sua área. Não custa nada pedinchar mais um pouco, e eles já sabem como fazê-lo.

15 setembro 2010

Verdades ou perspectivas?

Há quem diga que não há verdades absolutas... existem perspectivas, opiniões e argumentos, não mais que isso.

Na realidade, costumo concordar com este ponto de vista. Costumo, eu própria, usar a ideia para moderar, terminar e por vezes até começar discussões. De certa forma, facilita as coisas. Aceitando-a desde o início, torna-se mais simples argumentar contra o que nos dizem (e aceitá-lo) sem ferir susceptibilidades: não estamos a desmentir ninguém pois simplesmente não há verdade alguma que possamos contradizer! Existe uma infinidade de opiniões e cada um tem direito à sua, ponto final. Soa perfeito.
O único problema que me surge é que não chegamos a um dos objectivos essenciais de uma discussão: a conclusão. Aliás... nem chega bem a ser uma discussão (pelo menos não na minha acepção do termo...) mas apenas aquilo a que chamamos "troca de ideias", literalmente. Estou a divagar...
Bom, aceitando a ideia acima, por outro lado, também se torna relativamente simples deturpar factos, acrescentar pontos aos contos, distorcer realidades. Assustador.

Pois bem, a minha conclusão é que a afirmação com que comecei é unicamente mais uma prova do seu próprio significado: não é uma verdade absoluta que não haja verdades absolutas. Existem! Há verdades que não dão espaço a qualquer argumentação. Há factos que não precisam sequer de descrição, de tão óbvios e auto-suficientes que são. E há sentimentos e sonhos e intuições...

Já me alonguei. Ficou a mensagem, mais um desabafo.

11 setembro 2010

Utopia?

Gostava de acordar numa cidade em que o primeiro som da manhã fosse mais agradável que a buzina do senhor do carro preto que acordou atrasado e mal disposto, pelo que decidiu descarregar no vizinho que estacionou o carro 5cm mais à esquerda do que devia. Gostava que a senhora do café lá de baixo me retribuísse o sorriso e os bons dias, todas as manhãs. Gostava que não me empurrassem (tanto) no metro. Gostava de morar numa cidade em que as pessoas se preocupassem em embelezar as ruas e as casas e a si próprias. Gostava de conhecer uma cidade em que as pessoas se respeitassem e aceitassem umas às outras...
Acho que já passei a ideia!

A questão é: será assim tão utópico? Somos muitos. Somos muitos e muito diferentes, é verdade. Mas também é verdade que não conheço ninguém que goste de buzinas e sítios feios.

Então... porque é que a realidade é esta que conhecemos?

Suponho que muitas pessoas já tenham ouvido falar do dilema do prisioneiro. Não resisto a encaixá-lo aqui!
Muito resumidamente, a conclusão é que, num cenário de cooperação, ganhamos todos. Óbvio! No entanto, e visto que à partida não há controle de quem coopera ou não, um cenário desse tipo deixa espaço a que qualquer pessoa, por desleixo ou má vontade, se afaste do "acordo".

Imaginemos: na melhor das hipóteses, ninguém deita lixo para o chão; ora, se eu deitar o papel da minha pastilha no chão... sou apenas eu! É só um. Poupo trabalho e continuo a usufruir da limpeza que os outros mantêm. Qual é o problema, então? Bem, a questão é que, no limite, todos pensamos assim e, a certa altura, todos deitamos tudo no chão. Por outro lado, se tu deitas, eu não o vou fazer? Que tontice, trabalho para ti?! Não.

Sem controlo nem incentivos visíveis, muito embora todos saibamos que todos ficaríamos a ganhar num cenário de cooperação, ninguém o fará e, a prazo, ficamos indubitavelmente pior. É óbvio! Tão óbvio que se torna estúpido ter que escrevê-lo.

Esta linha de pensamento é válida para o lixo, para os empurrões, par os sorrisos, para as buzinas e para quaisquer outras situações que possamos imaginar.

Volto a perguntar: porque é que a realidade é, de facto, esta que conhecemos? Parece-me bem mais ridícula a situação que temos do que seria utópico um cenário diferente. Estou errada?




... "You must be the change you want to see in the world."
Gandhi.

06 setembro 2010

Fiesta

"Uma geração passa, e outra geração vem; mas a terra para sempre fica ... O sol sempre nasce, e o sol se põe, e apressa-se para o lugar onde nasceu ... o vento ronda ao sul, e volta a rondar ao norte; e o vento continuamente circula, e o vento volta de novo segundo os seus circuitos ... Os rios correm para o mar; e o mar não transborda; ao lugar de onde os rios vieram, aí voltam mais uma vez."

ECLESIASTES

There are moments in a match...



Semáforos. Apanhar o metro. Apanhar o autocarro. A fila do supermercado. A fila da loja do cidadão. Esperar pelo elevador. É o dia-a-dia.

Nem queria escrever sobre isto, até porque cheguei ao fim e achei que esta associação não fazia sentido, e fiquei contente por tudo depender da sorte ou do azar - se isto fosse escrito com caneta e papel riscava este parágrafo até não dar para ver uma palavra (era muito mais bonito escrever sobre outras coisas. E se eu desse este passo para a esquerda em vez de ser para a direita? E se eu desta vez optasse pelo "Não!"? E se...). Olhamos para a nossa economia, para a justiça, para a forma como gostamos de nos enganar uns aos outros (e temos prazer com isso, para no final reclamar com toda a gente), para aqueles que escolhemos para "gerirem" aquilo que é de todos (chega até ser ridículo escrever isto, porque para além de ser um lugar comum identificar estes problemas, até as pessoas responsáveis por o fazerem, o dizem), e percebemos que as soluções dependem mais de um acaso do que de outra coisa qualquer, para a qual não encontro o nome certo. O dia-a-dia. Que seja a nossa sorte...

Para aqueles que dormem descansados, mas passam os dias a barafustar na televisão, nos jornais, em conversas de café: Estejam tranquilos, pelos vistos não depende de vocês.

Para os outros, façam qualquer coisa. Ou, emigrem!

A parte maior foi mesmo o "aparte" deste post, na verdade só queria mesmo era dizer (gritar) isto antes de ir dormir:

F****-**!!!! Bola pra'frente!!!