01 março 2012

Desabafo barato de alguém que não faz nada há quinze dias

Assim que fiz 20, lembro-me que comecei a fazer contas e percebi que já tinha vivido (pelo menos) um quinto da minha vida. Que possivelmente já tinha feito mais de um quinto das escolhas importantes que hei-de ter que fazer. E que no fundo já era a Carina que hei-de ser para sempre. E também percebi que não me tinha preparado para isso, nunca antes dos 20 pensei a longo prazo ou com atenção às consequências, nunca pensei no tamanho das consequências.

E é quase ridículo dizê-lo, mas nada me assusta como o tempo. Aliás, como perder tempo! Pior: dedicar tempo demais a opções erradas, porque tudo demora tanto tempo... O erro, a descoberta, o luto, a nova escolha. Assusta-me chegar ao fim do dia, do mês, do ano, e não ter feito o que planeei fazer. Ou perceber que fiz pouco, que não aproveitei o tempo, que não fiz por merecê-lo.

É aquilo que de mais precioso temos. Mais necessário. E mais escasso. E mais “escorregadio”. Mesmo em momentos nos quais demora a passar, ele passa e não volta mais. É irrecuperável. O dia de hoje é irrecuperável e, daqui em diante, nunca mais posso fazer o que quer que seja nele, arrependa-me ou não do que deixei lá.

E nada me assusta como arrepender-me de ter perdido “um dia de hoje”, por isso mesmo: posso recuperar quase tudo o resto, menos o tempo.



1 comentário:

António J. B. Ramalho disse...

Relaxe... isso com o tempo passa.
Sim, não estou a ser irónico, o tempo, o tal recurso escasso, irrecuperável e irrepetível, constitui também, por mais paradoxal que possa parecer, uma importante terapia para a ansiedade.
Há 30 anos atrás vivi uma "crise" similar à sua... depois - sem chegar ao extremo daquele antigo Governador Civil que trabalhava com 2 pilhas de papéis (1. Assuntos que o tempo há-de resolver; 2. Assuntos que o tempo já resolveu) - comecei a relaxar um pouco e constatei que, afinal, o famigerado Tempo resolve mesmo muita coisa.