Gostava de acordar numa cidade em que o primeiro som da manhã fosse mais agradável que a buzina do senhor do carro preto que acordou atrasado e mal disposto, pelo que decidiu descarregar no vizinho que estacionou o carro 5cm mais à esquerda do que devia. Gostava que a senhora do café lá de baixo me retribuísse o sorriso e os bons dias, todas as manhãs. Gostava que não me empurrassem (tanto) no metro. Gostava de morar numa cidade em que as pessoas se preocupassem em embelezar as ruas e as casas e a si próprias. Gostava de conhecer uma cidade em que as pessoas se respeitassem e aceitassem umas às outras...
Acho que já passei a ideia!
A questão é: será assim tão utópico? Somos muitos. Somos muitos e muito diferentes, é verdade. Mas também é verdade que não conheço ninguém que goste de buzinas e sítios feios.
Então... porque é que a realidade é esta que conhecemos?
Suponho que muitas pessoas já tenham ouvido falar do dilema do prisioneiro. Não resisto a encaixá-lo aqui!
Muito resumidamente, a conclusão é que, num cenário de cooperação, ganhamos todos. Óbvio! No entanto, e visto que à partida não há controle de quem coopera ou não, um cenário desse tipo deixa espaço a que qualquer pessoa, por desleixo ou má vontade, se afaste do "acordo".
Imaginemos: na melhor das hipóteses, ninguém deita lixo para o chão; ora, se eu deitar o papel da minha pastilha no chão... sou apenas eu! É só um. Poupo trabalho e continuo a usufruir da limpeza que os outros mantêm. Qual é o problema, então? Bem, a questão é que, no limite, todos pensamos assim e, a certa altura, todos deitamos tudo no chão. Por outro lado, se tu deitas, eu não o vou fazer? Que tontice, trabalho para ti?! Não.
Sem controlo nem incentivos visíveis, muito embora todos saibamos que todos ficaríamos a ganhar num cenário de cooperação, ninguém o fará e, a prazo, ficamos indubitavelmente pior. É óbvio! Tão óbvio que se torna estúpido ter que escrevê-lo.
Esta linha de pensamento é válida para o lixo, para os empurrões, par os sorrisos, para as buzinas e para quaisquer outras situações que possamos imaginar.
Volto a perguntar: porque é que a realidade é, de facto, esta que conhecemos? Parece-me bem mais ridícula a situação que temos do que seria utópico um cenário diferente. Estou errada?
... "You must be the change you want to see in the world."
Gandhi.
3 comentários:
Excelente.
Vou "rapinar" este seu "desabafo" e, com a devida vénia à respectiva autora, publicá-lo em todos os sítios a que consiga aceder (facebook, blogger, etc.)
Faço-o sem esperar pela sua autorização, assim sem mais, à má fila...
PF: continue a "desabafar"!
António, antes de mais agradeço o seu comentário e aqui fica a minha "autorização" para que publique o post, sim, onde achar apropriado. :)
Foi definitivamente um desabafo! Não sei se feliz ou infelizmente mas continuarão a surgir muitos outros, com toda a certeza. :)
Carina.
Enviar um comentário