09 fevereiro 2009

Qual é a nossa esquerda?

Professor catedrático em Harvard.
Escritor (gosta de dissertar sobre política e construção social)
Brilhante pensador (e polémico), nas áreas de pensamento social contemporâneo.

Quem o diz é o el país, na edição de segunda-feira.

Estamos a falar de Roberto Mangabeira Unger, ministro brasileiro para os assuntos estratégicos.

O que me chamou a atenção foi a seguinte passagem da entrevista:


"¿Qué debería proponer hoy la izquierda en todo el mundo?"

"Básicamente hay tres izquierdas en el mundo. Hay una vendida, que acepta el mercado y la globalización en sus formas actuales y que quiere simplemente humanizarlas por medio de políticas sociales. Para esa izquierda, solo se trata de humanizar lo inevitable. Su programa es el programa de sus adversarios, con un descuento social y una renta moral y narcisista. Hay otra izquierda, recalcitrante, que quiere desacelerar el progreso de los mercados y la globalización, en defensa de su base histórica tradicional (los trabajadores sindicados de grandes empresas industriales). Y hay una tercera izquierda, la que me interesa, que quiere reconstruir el mercado y reorientar la globalización con un conjunto de innovaciones institucionales. Para esa izquierda, lo primero es democratizar la economía de mercado, lo segundo capacitar al pueblo y lo tercero, profundizar la democracia. Yo entiendo ese proyecto como una propuesta de la izquierda para la izquierda."


Também se pode traduzir.


Mais info e trabalhos do autor aqui.

6 comentários:

Anónimo disse...

E em que esquerda na sua opinião se enquadra o PSD, já que na sua gênese também é um partido de esquerda?
Ou por outro lado não acha que esta questão da "esquerda vs direita" é uma questão ultrapassada e deveria ser mais "conservador vs liberal"?

NFG disse...

Essa esquerda e direita de que fala foram rótulos criados com a revolução francesa e hoje em dia valem o que valem.

O PSD apesar de ter a base de origem mais à esquerda, colocou-se como um partido mais de direita ao longo da sua história (com maior ou menos evidência ainda assim está!)

E continuamos a falar de esquerdas e direitas... é inevitável.

Para os que vivem da política acho que esta diferença serve exclusivamente para cada um (partido), conseguir o seu espaço e a partir daí orientar o seu discurso.

Os partidos de centro estão cegos de poder e isso reflecte-se na sua base ideológica.

O PS, um partido plural, que se afirma de centro-esquerda, ocupa o espaço da direita. Os seus militantes não reclamam (porquê?), e ainda recusam muitas vezes que o PSD se assuma como um partido de centro-direita.

O PSD conseguiu duas maiorias, não foi certamente apenas com os votos da direita.

Acho que a diferença visível neste momento entre os dois partidos é o estilo.

Os rótulos assustam-me dada a complexidade das relações do nosso mundo. Veja-se. Um conservador, para o ser, não pode defender a despenalização das drogas leves, um liberal não pode dizer não ao aborto, aos conservadores "exige-se" que defendam Israel...

As pessoas criam a sua própria ideia daquilo que o seu partido pode e deve defender, mas raramente chegam à discussão daquilo que fundamente a sua acção, a sua ideologia (filosofia, economia, religião,...).

Lamento não ser muito claro, mas estas questões são delicadas e levam tempo a amadurecer e fazer sentido. Para mim é assim...

Continuo a estudar.

NFG disse...

E não custa nada assinar os comentários.

É um tema que me interessa e sobre o qual gosto de ler e aprender, a conversa até podia nem ficar por aqui.

Anónimo disse...

Deixa-me dar eu a minha achega...

Os partidos do centro político (catch-all parties, segundo Otto Kirchheimer), há muito que meteram a ideologia na gaveta... e passaram reger-se através do marketing político, isto é, em função das prioridades conjunturais dos eleitores. Como tal, tanto podem ter políticas mais à esquerda como à direita... mandam os interesses!
Os eleitores votam em função dos líderes porque em termos programáticos... é difícil encontrar diferenças.

Saludos!

rr disse...

De acordo Sr. André. É também a minha opinião.

Discordo apenas num ponto:

Não podemos esquecer os eleitores "clubistas", que independentemente de estarem de acordo ou não com a política do "seu" partido, sempre vestiram aquela camisola e pronto, É a que vão defender até ao fim com "unhas e dentes"! Não deveria acontecer, mas acontece...

Pegando na tua última frase: "Os eleitores votam em função dos líderes porque em termos programáticos... é difícil encontrar diferenças.":

O problema é quando os líderes são o que são..., se é que me faço entender! Acho que nos tempos que correm estamos muito mal de líderes, e aí volta a surgir a dúvida: O que será melhor, votar em função dos partidos acreditando na sua ideologia, ou escolher o líder menos mau???

Anónimo disse...

Tem toda a razão Sr. RR... há sempre os "clubistas" e têm o seu direito.
Quanto ao voto em si... penso que existem várias opções:

- Identificação com a ideologia/candidato (clubista ou não)

- Votar no "mal menor"

- Votar em branco (como protesto/descontentamento devido às alternativas em presença)

- Votar num dado partido para lhe dar mais força, sabendo que o mesmo não vai ganhar. Foi o que aconteceu em França com a grande votação no Le Pen, ou na Austria mais recentemente... devido à grande insatisfação perante a imigração.

Não concordo com a abstenção... muitas vidas se perderam para termos o direito de votar