28 fevereiro 2012

Contos ingénuos I

Se houvesse um mercado de valores morais, daqueles que toda a gente fala e preza no companheiro e amigo do lado, qual seria o preço de alguns?
Chateia-me o preço do petróleo estar sempre a subir, ora porque a procura aumenta, ora porque a oferta diminui. São leis de mercado. Só porque se comercializa?
Não percebo. A procura por aqueles valores é alta, diz-se por aí que toda a gente os quer. Eu quero. Será que é porque toda a gente os tem? Do lado da oferta, desconfiança. Pode ser uma externalidade.
Bem, que se faça um mercado para negociarmos. Eu dou o nome "Genuíno".

06 fevereiro 2012

Amigos de copos e de petiscos, não há como nós

31 de Janeiro. Durante os 50 minutos que demorei na fila para comprar o passe, e já nem sei a que propósito, conheci um senhor na casa dos setenta que me contou, entre outras coisas menos relevantes para aqui, como há umas décadas atrás um alemão lhe explicou o futuro que o país havia de tomar. Disse-lhe esse alemão, engenheiro principal numa grande obra em Beja (trabalhador exemplar, repetiu-me vezes sem conta), que para amigos de copos e de petiscos não conhecia ninguém como os portugueses, mas que éramos um povo com três defeitos tão enraizados que por mais ajuda e dinheiros que viessem da CEE nunca havíamos de sair da cepa torta. Ganhei interesse ao ouvir falar em três defeitos tão importantes. Três defeitos? Egoístas, vaidosos e pouco amigos de trabalhar. Ficou-me no ouvido.

E apesar de não concordar com a grande maioria do discurso do senhor da fila para o passe, apesar de não gostar nem um pouco de fazer generalizações e apesar de considerar ridículo que cada português individualmente fale dos defeitos dos outros todos como se se tratasse de um povo à parte... apesar de tudo, não consigo deixar de pensar no que disse o tal engenheiro e em como havia de ter alguma razão.